Federação de Colectividades de Cultura Recreio e Desporto do Distrito de Santarém
domingo, 28 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
sábado, 20 de outubro de 2012
Reunião dos Órgãos Sociais da Federação
REUNIÃO
DOS ÓRGÃOS SOCIAIS
DA FEDERAÇÃO DAS COLECTIVIDADES
CULTURA, RECREIO E DESPORTO
DE SANTARÉM
26 DE OUTUBRO, 21 HORAS
na ASSOCIAÇÃO VALE ESTACAS
(Santarém)
Opinião de A. Melo de Carvalho
O clube desportivo
e o seu «produto»
O termo «produto» provoca um sobressalto em todo o Movimento Associativo, e o dirigente desportivo voluntário tem uma enorme dificuldade em integrá-lo no seu campo de reflexão. O «produto» de um clube não é mais do que cada actividade, ou conjunto de actividades que o clube «oferece» aos seus sócios. A «oferta» é, por isso, uma noção indissociável da primeira. Encontra resistências, na medida em que é encarada como uma prestação de serviço «comercial» e não é, por isso, percepcionada como um «serviço» desinteressado na boa tradição associativa, historicamente destinada a reforçar os laços de solidariedade e a fornecer respostas a problemas específicos do grupo dos associados que se juntaram para criar e pôr a funcionar o clube.
Todavia, cada «serviço» tem o seu custo e, para responder à «procura», tem de possuir características específicas. Os locais, o equipamento, o enquadramento técnico e o trabalho administrativo, têm um custo. As noções de produto, de oferta, de serviço e de custo, estão assim integradas num processo, subordinado a uma lógica comum.
Torna-se evidente que se o «serviço» tem um determinado custo, a questão financeira assume uma importância decisiva. Nesta lógica, cabe ao dirigente desportivo associativo procurar obter o melhor serviço pelo mais baixo custo. E, ainda na mesma perspectiva, a resposta à «procura» tem que ser fornecida por um «produto» que representa um «serviço», viável através de um certo «custo».
Não há dúvida de que nos encontramos perante um encadeado lógico razoável e, sendo, assim, não se compreende a reacção de sobressalto do dirigente desportivo voluntário quando se lhe fala nestes termos. A origem é simples e assume um carácter multifacetado: a lógica económica que subjaz a este raciocínio é, em tudo, idêntica à do funcionamento da empresa, cuja finalidade consiste em criar um produto e de o vender com lucro. O que está em causa é a eficácia dos métodos utilizados, para «vender» e obter o máximo lucro para o empresário, cuja preocupação com a solidariedade não entra na estrutura do seu trabalho.
Ora, a ação do dirigente desportivo voluntário situa-se, por definição tradicional, no campo do desinteresse material característico da situação de «amador» – aquele que participa na organização desportiva sem receber dinheiro (Dic. Lello Universal). Mas, se se retirar a noção de «obtenção de lucro máximo» àquela perspetiva e a substituirmos pela de «investimento necessário» não se estará a acertar a actividade do clube pela hora presente?
As reações do dirigente parecem, desta forma, inadequadas e ultrapassadas. Por um lado, porque não é possível negar que o desporto se integra, pelo menos em larga medida, no campo do económico. Ou seja, no sector de actividade social de onde qualquer tipo de raciocínio é originário. Por outro lado, uma das questões essenciais que se colocam na actualidade do dirigente voluntário é a questão dos meios financeiros, traduzidos nas crónicas dificuldades económicas que enfrenta a gestão do clube.
Tudo indica, por isso, que a preocupação central do dirigente se situe no âmbito da rendibilidade das actividades organizadas. Por isso, muitos afirmam que serão os dirigentes com a iniciativa e transformados em autênticos «managers» gestionários, que passarão a orientar a vida do clube, pois utilizarão os métodos, as técnicas e os utensílios de gestão capazes de rendibilizarem a prática desportiva. Desta forma viabilizarão o clube desportivo que será capaz, não só de sobreviver, como de responder a uma exigência sempre acrescida de melhoria da qualidade da «oferta».
Na realidade, a questão não pode ser cobrada desta forma tão simplesmente esquemática. Antes de tudo porque a acção do dirigente assume um carácter de interesse social, correspondendo a uma substituição da acção do Estado em termos de uma colaboração que configura um serviço público. Esta perspectiva não pode ser escamoteada ou esquecida quando se fala da actividade do clube e da acção do dirigente e é ela que constitui o elemento diferenciador essencial entre a associação voluntária que organiza serviços que partem de necessidades específicas da população de onde emerge, e a empresa privada que organiza serviços que respondem à procura expressa com o objectivo de alcançar o máximo lucro. É também esta diferença que justifica a diferenciação entre o cliente (da empresa) como consumidor, e o utilizador, praticante de uma actividade organizada pelo clube como afirmação plena do cidadão (ou cidadã).
Naturalmente que, na perspectiva neoliberal do «menos Estado» que procura desresponsabilizá-lo de atribuições essenciais para o progresso da comunidade em praticamente todas as áreas da actividade social (desde que permitam obter lucro através da iniciativa privada em que a noção de serviço público é liquidada), o esforço consiste em convencer toda a população (incluindo os dirigentes desportivos especiais defensores dos conceitos de solidariedade, interesse público, acção materialmente desinteressada colocada ao serviço da comunidade) de que todas estas concepções estão ultrapassadas e só os «dinossauros» sobreviventes as defendem (argumentos de quem não tem argumentação consistente e séria).
Ora, existindo, naturalmente, pontos de contacto entre a empresa privada e a empresa pública, entre a «associação empresarial» e a «associação voluntária de solidariedade», a sua natureza e finalidade são estruturalmente diferentes.
sábado, 13 de outubro de 2012
Opinião
O «novo» clube: a invasão do social pelo económico
O facto do clube se transformar numa empresa não porá em causa princípios essenciais do associativismo, ou seja, a legislação por que se passa a reger não prejudicará a liberdade da associação? O controlo que, nessa altura, se deve passar a exercer através dos poderes públicos, pressupõe uma regulamentação que, evidentemente, põe em risco o princípio da liberdade de associação, tal como resultou da legislação posterior ao 25 de Abril e é, tradicionalmente, concebida e praticada pelo Movimento Associativo. De facto, se o clube se aproxima, cada vez mais, da empresa é devido à vontade de garantir a invasão do «social» pelo «económico».
De uma forma explícita, e à primeira vista ingenuamente justificada, o que se argumenta é que o indivíduo deve participar (?) no próprio financiamento das actividades a que se dedica, e o clube deve conseguir por si mesmo obter fontes de financiamento capazes de garantir a sua sobrevivência. Isto devido a um duplo princípio de «justiça social»: por um lado, recusa-se a utilização do financiamento público pois viria a beneficiar dele aquele que menos precisa (na medida em que tem capacidade económica para poder suportar os custos reais da actividade), por outro, porque sendo o número de praticantes desportivos muito baixo, seriam aqueles que menos praticam (as camadas sociais mais desprotegidas) a pagar os custos de uma prática elitista.
Esta argumentação constitui um dos mais graves sofismas que o neoliberalismo utiliza como argumento. Nada é mais injusto do que uma igualdade que não tome em consideração as «desigualdades» e, por outro lado, é claro que se os clubes não são apoiados só as camadas com maior capacidade económica da população podem ter acesso às actividades. Assim a exclusão social e a segregação social sofrem um novo agravamento e só podem sobreviver os clubes frequentados por quem tem meios para custear práticas de alta qualidade ou aqueles que se dedicam ao espectáculo desportivo. Os outros devem desaparecer porque constituem estruturas obsoletas.
De qualquer forma, se se pretender que a associação constitua os seus próprios fundos, ou obter formas de crédito ou de empréstimo, é evidente que se torna indispensável fornecer garantias financeiras ao emprestador. Naturalmente, nestas condições, o registo do clube como empresa é indispensável, a não ser que esta prescinda das garantias de rendibilidade suficiente do clube.
Na situação actual, uns defendendo a pura e simples transformação do clube em empresa, outros argumentando que só a «parte» profissional da associação deveria ser objecto dessa mudança, dividindo o clube em dois, será indispensável que a associação se sujeite não só ao registo no comércio, como também se tem de submeter ao controlo que é exercido sobre todas as empresas. No espírito de alguns, esta é a evolução inevitável para o clube desportivo em todas as suas situações.
Ora, a esta perspectiva nada se pode opor quando se trata do clube totalmente profissionalizado, dedicado ao espectáculo desportivo, e em que as modalidades amadoras são apresentadas como um simples serviço, cujos custos devem ser pagos pelos seus frequentadores. Será mesmo injusto e incorrecto que a estas «novas empresas» não sejam aplicadas as regras pelas quais as outras se devem reger, e que se destinam a proteger terceiros.
O que é um facto é que, nestes casos, o clube passa imediatamente a interessar quer aos políticos (sobretudo em período eleitoral), quer os homens de negócio que «oferecem» os seus «serviços» (em especial os construtores civis e os homens da banca). Os próprios serviços públicos olham esta questão como uma complacência inesperada, desmultiplicando a sua acção neste campo. Mesmo ao nível local, uma ou outra destas atitudes manifesta-se, em especial, sempre que a direcção de dado clube deseja projectar alguma das suas equipas na «ribalta» do desporto profissional nacional ou regional. Basta tomar na devida conta o que se passou durante o ano de 1997 com o «totonegócio», para se ver até que ponto esta atitude desrazoável, proteccionista, intervencionista e /ou subserviente, de tudo isto um pouco em quase todos os casos, mas sempre tomando o desporto como objecto de promoção política, invadiu e tomou conta da mentalidade dos dirigentes.
Nada disto pretende negar a importância social e política do clube com actividade profissional e, muito menos, o papel que o futebol desempenha, cada vez mais fortemente, na sociedade. A valorização de um e de outro é aspecto insofismável, mas o que consideramos aberrante e inaceitável é que estas novas «empresas» exijam possuir um estatuto especial e não aceitem reger-se pelas mesmas normas que determinam a vida e a atividade de todas aquelas que foram criadas para obter lucro.
Melo Carvalho
terça-feira, 9 de outubro de 2012
domingo, 7 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
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